A
batalha de Aljubarrota faz parte do fim do interregno que assolou Portugal no
final do século XIV. O rei Juan I de Castela queria Portugal como sua
província, todavia, e apesar de ter o apoio da maioria da nobreza lusitana o Clero
e o Terceiro Estado não estavam de acordo com esta situação e mostravam-se
preparados para defender a sua nação do inimigo castelhano.
A
crise iniciou-se no ano de 1383 após a morte de D. Fernando. A situação era
crítica uma vez que não existia filho varão e o único descendente era d.
Beatriz, casada com D. Juan I de Castela. Segundo o Testamento deixado D.
Leonor de Teles deveria reger o reino até D. Beatriz ter um filho varão e este
seria o futuro rei de Portugal. Desde cedo que o testamento não foi cumprido. O
rei de Castela ambiciona Portugal e exige à Rainha que aclame D. Beatriz como
rainha de Portugal. A alta nobreza portuguesa e os alcaides das cidades
reconhecem D. Beatriz como rainha, contudo o povo das cidades e vilas exige que
D. João filho de D. Inês e D. Pedro seja rei de Portugal, para evitar mais um
inimigo o rei de Castela manda prender D. João filho de Inês e Pedro. A
situação permanece bastante instável pois na corte o grupo que apoia Castela
começa a rodear a rainha e a influenciá-la. Um dos homens com maior poder de
influencia é João Fernandes Andeiro. Tinham já existido inúmeras tentativas de
assassinato, todavia todas tinham falhado, tornando-se mais difícil matar o
conde Andeiro. Durante o início do interregno procurou-se convencer o Mestre a
liderar uma tentativa de assassinato ao conde. No princípio o Mestre hesitou,
pois estava com receio das consequências. O Mestre procurou vários apoios,
dentro da nobreza, como do oficialato. Conseguiu importantes apoios, entre eles
destacou-se o antigo chanceler de D. Pedro e de D. Fernando. No dia 6 de
dezembro de 1383 o conde Andeiro é morto pelo Mestre e por Rui Pereira. O povo
foi mobilizado, uma vez que fizeram crer que o Mestre estava a ser atacado por
opositores no Paço Real.
Os
dias que se seguiram foram tumultuosos, os partidários do mestre tentaram um
acordo com a rainha, mas este não foi possível. O povo pedia um líder e o
mestre reuniu toda a população em São Domingos e aceitou ser regedor e defensor
do reino. No dia seguinte realizou-se uma reunião na qual os líderes da cidade
de Lisboa reconheceram o mestre.
Durante
o ano que se seguiu o mestre enfrentou inúmeras batalhas e cercos. A capital do
reino esteve cercada durante algum tempo contudo os castelhanos acabaram por
desistir devido ao surto de peste que afectou o exército castelhano. O exército
castelhano acabou por abandonar Portugal.
No
ano de 1385 reúne-se as cortes de Coimbra com o objectivo inicial de arranjar
fundos para a guerra. Rapidamente colocou-se o problema de ser necessário um
rei para liderar o reino e comandar os destinos da Guerra. Existiam três pretendentes ao trono. Os
filhos de D. Pedro e D. Inês, o rei de Castela e ainda o regedor e defensor do
reino D. João.
Perante
estas três situações o doutor João das Regras tinha de actuar. Para João das
Regras a hipótese mais viável e correcta
para o reino era o Mestre de Avis. Para explicar tal opinião João das Regras apresentou
duas ideias fundamentais.
Para
este doutor apenas o mestre era a escolha indicada para subir ao trono, uma vez
que os infantes não eram filhos legítimos do rei D. Pedro pois este nunca
casara com D. Inês. D. Beatriz não era também a mais indicada uma vez que
estava casada com o rei inimigo, o mesmo rei que invadira Portugal e não
cumprira o Tratado de Salvaterra de Magos.
Após
um mês de intensa discussão entre os partidários dos infantes filhos de Inês e
os aliados do mestre convocaram-se eleições nas cortes como forma de decidir o
futuro rei. O mestre foi aclamado rei em Abril de 1385, passando a ser D. João
I. Durante estas cortes decidiu-se também que os concelhos contribuiriam com
400 000 libras para a guerra todavia os concelhos reivindicaram mais direitos
que na sua maioria foram aceites pelo novo rei.
Após
um difícil batalha jurídica o rei e Nuno Álvares Pereira concentraram-se em
derrotar os seus adversários. Inicialmente o rei enviou o condestável para o
Douro e para o Minho onde conquistou vários castelos, como Viana ou Neiva.
Também
o rei partiu para norte após cercar e conquistar o castelo de Coimbra. No norte
do país o rei conquistou Braga e Guimarães. Em Lisboa as movimentações de
tropas eram cada mais frequentes. Por um lado os Ingleses desembarcavam
arqueiros experientes, por outro lado os castelhanos cercavam por via marítima
a cidade e abasteciam as comarcas que apoiavam o rei de Castela.
Os
castelhanos invadiram Portugal pelo Alentejo, na zona de Elvas e pelas beiras.
Após
algumas semanas os dois exércitos confrontam-se. Os Castelhanos contavam com o
apoio de franceses e do papado de Avinhão. Os portugueses contavam com o apoio
da Inglaterra, grande aliada portuguesa e inimiga da França e contavam com o
apoio do papado de Roma.
O
exército português contava com cerca de 6 000 a 10 000 soldados entre peões,
cavaleiros, auxiliares, arqueiros e besteiros. Segundo os estudos mais recentes
os castelhanos contavam com cerca de 20 000 a 30 000 soldados tendo uma
poderosa linha de cavalaria, bastante temida entre as fileiras portuguesas.
Desde cedo, ainda antes da batalha começar, os generais portugueses tentaram diminuir
a vantagem castelhana. O exército português colocou-se num terreno
relativamente plano, de onde a artilharia castelhana não pudesse tirar
proveito. A colocação do exército castelhano ficou prejudicada pois ficaram
contra o sol, reduzindo a sua capacidade de visão, o reduzido comprimento do
campo de batalha impediu os castelhanos de criar um linha de ataque vasta
obrigando-os a comprimir o seu exército. A tática usada pelos portugueses, foi
uma inovação a nível militar pois as táticas medievais, baseavam-se na
colocação dos soldados em linhas e num confronto entre duas grandes linhas. Na
batalha de Aljubarrota os portugueses e os ingleses criaram uma tática, na qual
os arqueiros estavam nas alas e recuavam para cobrir os flancos assim que os
inimigos se confrontassem corpo a corpo com os soldados de infantaria. Quando a
batalha se iniciou os exército português encontrava-se protegido por armadilhas
colocadas estrategicamente no campo de batalha, como estacas afiadas ou buracos
cobertos de folhagem de forma a destruir as cargas de cavalaria.
No
início da batalha os soldados castelhanos avançaram numa só frente contra as
defesas luso-britânicas. Os soldados portugueses preparam-se para o confronto.
Os arqueiros bombardearam as linhas castelhanas tendo causado baixas, a
cavalaria ficou bloqueada nas armadilhas e grande parte acabou por abandonar o
campo de batalha ou acabou morta. Quando a restante linha de ataque colidiu com
a linha defensiva a diferença já não era tão substancial, a artilharia recuou
para cobrir os flancos e a retaguarda avançou para apoiar a vanguarda que começava
a ceder. Uma das alas portuguesas foi proteger os mantimentos portugueses, a
outra avançou para atacar os soldados de retaguarda e aqueles que começavam a
retirar. Ao fim de uma hora de batalha os soldados castelhanos foram obrigados
a retirar. O rei teve de abandonar Portugal e viu-se confrontado com a situação
oposta, os portugueses estavam a preparar-se para invadir Castela. As baixas
castelhanas foram elevadíssimas, contudo a maioria dos soldados morreu devido à
retirada mal planeada. Muitos soldados castelhanos foram mortos pelas
populações portuguesas que sentiam raiva e ódio dos invasores. Existem três
grandes causas para a derrota dos castelhanos nesta batalha, que parecia
perdida. A primeira razão deve-se ao facto dos castelhanos estarem a invadir um
território que lutava pela independência, pelo que os portugueses
encontravam-se mais motivados para a batalha, outra das razões prende-se com o
facto de parte do exército e até mesmo o rei estarem doentes ou debilitados,
com batalhas anteriores, como o cerco de Lisboa e por último e a mais
importante deve-se ao facto dos portugueses terem utilizado uma nova tática
militar, terem colocado armadilhas e terem escolhido o terreno e o posicionamento
dos exércitos.
Esta
não foi a última confrontação entre portugueses e castelhanos durante o
interregno, todavia foi esta a decisiva batalha que desmotivou o exército
castelhano e o incapacitou. De lutar pela conquista do reino de Portugal.
A
vitória de Aljubarrota possibilitou, aos portugueses terem uma verdadeira
independência de Castela e colocou Portugal numa posição ideal para iniciar os
descobrimentos e iniciar a época de ouro da história nacional.